Novo terremoto no Haiti revive o trauma urbano: o que a arquitetura pode fazer?

O Haiti sofre hoje as consequências de um terremoto de 7,2 graus que aconteceu no último dia 14 de agosto e que mergulhou o país em uma crise total. Reportagens internacionais espalharam imagens de edifícios completamente desmoronados em Porto Príncipe que se misturam com as imagens da destruição do terremoto anterior em 2010 (barracas de abrigo improvisadas estavam aparecendo lentamente em meio a um mar de escombros na capital). O número de mortos nesse momento está na ordem dos milhares.

Como a ajuda humanitária se espalha ao redor do mundo para ajudar no resgate, abrigo, saúde e alimentação, surgem questões: como a arquitetura pode ajudar?

O que um arquiteto pode fazer após um terremoto?

A comunidade arquitetônica se mobiliza em tempos de crise. Em 17 de abril de 2016, em resposta ao terremoto que atingiu a costa do Equador e deixou 650 mortos e 30.000 desabrigados, o escritório da RAMA Estudio se juntou a outras 10 jovens empresas para contribuir com a reconstrução do país. Assim nasceu "Actuemos Equador". Algumas lições tomadas desta experiência: antes de mais nada, pense, analise e planeje. Depois de um desastre, todos nós temos as mesmas dúvidas. Quando você age, pense no que você é bom (e no que você não atrapalha). Não vá para onde não é necessário. Ajude, mas não seja assistencialista. Lembre-se sempre que a união faz a força.

O que as rachaduras nas estruturas de concreto querem dizer?

Na Cidade do México, após o terremoto de 19 de setembro de 2017, o fotógrafo mexicano Onnis Luque apresentou uma série de fotografias onde os edifícios aparecem cobertos por um véu negro, que foi instalado para evitar que suas partes desabassem. A falta geral de conhecimento sobre as estruturas fez com que a identificação dos tipos de fraturas e rachaduras para conhecer o risco de colapso se tornasse uma necessidade para todos os cidadãos.

As fraturas são aberturas mais profundas e mais acentuadas, de 0,5 a 1,5 mm. Elas podem ser vistas a olho nu e são muito mais perigosas do que fissuras, pois a ruptura do elemento estrutural já ocorreu e pode afetar a segurança da peça. As rachaduras são ranhuras com aberturas maiores que 1,5 mm, profundas e bem marcadas. Com essas dimensões, também permitem que o ar e a água penetrem na peça, o que requer atenção imediata. Elas podem causar corrosão da armação ou reações químicas indesejáveis no material. Elas não devem ser simplesmente fechados sem identificação das causas e resolução do problema que as causou.

Arquitetura de emergência: construção in loco ou pré-fabricação?

O desenho pode responder à crise. Nos casos mais extremos, são necessárias respostas arquitetônicas imediatas, capazes de proporcionar proteção e cuidado aos afetados. Há duas abordagens principais para a construção de emergência. Por um lado, existem protótipos pré-fabricados - total ou parcialmente - que são transportados para os locais afetados por terra ou ar e têm projetos flexíveis e, em alguns casos, modulares para se adaptarem a quase qualquer clima e circunstância - desta natureza são sistemas de peças montáveis, estruturas retráteis, pavilhões infláveis e membranas têxteis - sistemas que em geral podem ser compactados ou desmontados para serem facilmente transportados.

Por outro lado, existem projetos realizados in loco que permitem a incorporação de técnicas e materiais locais e permitem a participação das pessoas afetadas no processo de construção. Compreender a adequação de cada um é crucial para agir da melhor maneira possível.

Quais materiais podemos usar para construir abrigos emergenciais?

Para além dos abrigos de contêineres e os têxteis, há uma série de materiais prontamente disponíveis com boas características físicas que podem cumprir funções de emergência, apresentando-se como soluções eficazes para além da experimentação. Exemplos incluem bambu, caixas de plástico e papelão - este último amplamente explorado pelo arquiteto japonês Shigeru Ban como material de construção desde 1986.

Para criar novos locais de encontro e coordenação em situações de emergência, o andaime é uma boa alternativa se pensarmos na velocidade da construção e em um orçamento apertado. Embora sejam frequentemente utilizadas como estruturas temporárias, eles também permitem compor rapidamente um espaço articulando horizontais, verticais e diagonais, e combinando-se a outros materiais como tecidos, madeira, policarbonato e metal.

Como a participação comunitária pode ajudar na reconstrução arquitetônica e urbana pós-desastres

Depois de um desastre, cidades inteiras muitas vezes precisam ser reconstruídas. Em outras palavras, além da construção de moradias, é necessário repensar a infra-estrutura, equipamentos, fluxos e a própria dinâmica urbana para que as novas estruturas sejam protegidas no caso de um desastre repetido. Além da experiência técnica de arquitetos, urbanistas e outros profissionais, e do apoio financeiro das instituições, o diálogo com a população e sua participação neste processo são essenciais para propor soluções adequadas.

Como construir a arquitetura pós-desastre: 10 exemplos a curto, médio e longo prazo

Para que um projeto tenha sucesso diante de um desastre natural, é preciso entender como satisfazer tanto a necessidade imediata quanto a necessidade de reconstrução e estabilidade a longo prazo. Exemplos que vão desde o Shiftpod de Christian Weber até o protótipo de estrutura flutuante do So? devem ser pensados com uma lógica de longo prazo.

Como acontece em toda crise, a resposta do governo e das empresas à adversidade revela a dura realidade "permanente" do abrigo temporário. A realidade da habitação de emergência nos países latino-americanos é que aqueles que têm mais sorte vivem em acampamentos temporários por um ou dois anos, e outros, com menos sorte, nascem e morrem em espaços inabitáveis "de emergência" em busca de um futuro que nunca chega para as famílias.

Sobre este autor
Cita: Dejtiar, Fabian. "Novo terremoto no Haiti revive o trauma urbano: o que a arquitetura pode fazer?" [El nuevo terremoto en Haití revive el trauma urbano, ¿qué hacer desde la arquitectura?] 18 Ago 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Daudén, Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/967000/novo-terremoto-no-haiti-revive-o-trauma-urbano-o-que-a-arquitetura-pode-fazer> ISSN 0719-8906

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